25 de jan. de 2013

ARTE DOS NOBRES E MARGINAIS


O universo cultural é amplo, heterogêneo e atingi todos nós incondicionalmente. O que dizer de um concerto de rock para milhões de pessoas em plena praia de Copacabana no Rio de Janeiro, terra do samba e carnaval? Alguém aí se lembra do STONES?...

... E a experiência tridimencional que as pinturas do grande mestre da arte nipônica, KATSUSHIKA HOKUSAI, o maior artista da terra do sol nascente de todos os tempos, proporcionou aos homens no auge do período Edo do Japão, transportando detalhes em suas telas que apenas séculos depois seriam perceptivos aos olhos do homem? Sua coleção TRINTE E SEIS VISTAS DO MONTE FUJI sintetiza perfeitamente a genialidade de um artista ímpar...

... E as obras de DA VINCI? O enigmático quadro de MONALISA, hoje seu trabalho mais pop é apenas a ponta do iceberg da imensa obra desse grande artista multifacetado que deixou para a humanidade um legado ainda hoje surpreendente...

... E o cinema deliciosamente e propositalmente plagiador de QUENTIN TARANTINO, especialista em fazer filmes de filmes como nenhum outro, um gênio que escreve diálogos absurdamente hipnóticos... Alguém aí se lembra da astúcia e faro de HANS LANDA (WALTZ) para encontrar judeus utilizando apenas uma conversa “despretensiosa” aparentemente sem sentido algum?

As pinturas xilográficas de Hokusai 
replicavam a perfeição detalhes invisíveis ao olho humano

... E o concretismo certeiro de ARNALDO ANTUNES? O que dizer de um poeta que em poucas linhas sintetiza idéias que certamente precisariam de uma longa análise textual, recheada de conteúdos científicos, prosas, réplicas, tréplicas, argumentos, etc e tal para temas tão comuns, mas ainda complexos de serem expostos pelo homem?

Quando trazemos esse universo para onde estamos, podemos pincelar alguns herdeiros que perpetuam a chama daqueles que no passado abriram as portas da percepção da consciência humana para um nível mais elevado... Em Roraima temos gênios tão grandes quantos os recordados nestas linhas, basta olharmos na história: O movimento RORAIMERA, de ELIAKIN RUFINO, ZECA PRETO E NEUBER UCHÔA em sua gênese foi marginalizado e combatido como um agente nocivo a nossa sociedade, porém, com o passar do tempo, provou ser um movimento único e genuinamente autêntico do extremo norte do Brasil. Fez sua história e abriu caminho para esta nova geração de artistas de Roraima, que muito deve a este movimento da vanguarda cultural local que militou pelo reconhecimento da arte feita acima da linha do equador.

Trio Roraimera (Eliakin, Zeca e Neuber): 
Movimento da vanguarda cultural roraimense - Fonte: FolhaBV

Hoje vivenciamos em Roraima, especialmente em Boa Vista um afloramento cultural em todas as vertentes, sendo a POESIA, a caçula dessa explosão das expressões artísticas produzidas pelo homem... Se há pouco tempo atrás eventos de poesia eram raros em nossa cidade, hoje podemos ter orgasmos múltiplos e gozar do privilégio de degustarmos esta nobre e “marginal” arte semanalmente.

Os poetas ELIAKIN RUFINO e GABI AMADIO fazem uma temporada de 6 semanas na CASA DO NEUBER, com as TERÇAS POÉTICAS, evento que visa promover a poesia roraimense, com palco aberto a todos os artistas interessados e ao público que degusta este tipo de arte refinada...

 Eliakin Rufino, Gabi Amadio e Vitor Piani 
nas Terças Poéticas da Casa do Neuber

Temos também mensalmente, o SARAU DO QUINTAL, evento promovido pelo COLETIVO ARTE LITERATURA CAIMBÉ, com apoio do ESPAÇO DOQUINTAL, que tal qual as TERÇAS POÉTICAS, tem como principal objetivo proporcionar ao público roraimense o contato com a POESIA e LITERATURA.

Se Nero Tivesse um Zippo
no 1º Sarau do Quintal - Foto: Edgar Borges 

Vivemos um momento na história cultural de Roraima onde todas as vertentes florescem e dão frutos como nunca se havia visto antes, iniciado ainda nos anos oitenta com o movimento RORAIMERA... Hoje temos grandes nomes da arte roraimense como os mestres do TRIO RORAIMERA (ELIAKIN, ZECA, NEUBER), os músicos BEN CHARLES, SERGINHO BARROS, GEORGE FARIAS, os poetas RODRIGO MEBS, ZANNY ADAIRALBA, EDGAR BORGES, os talentosos cineastas ALEX PIZANO, THIAGO BRÍGLIA e CLÁUDIO LAVÔR, os artistas plásticos AMAZONER OKABA e ISAÍAS MILIANO e bandas como JAMROCK e IEKUANA.

A cultura roraimense está saindo da margem social, do desconforto do anonimato, para o seu lugar de direito e de merecimento, dentro do epicentro do foco de nossos olhos, dentro do balaio cultural de massa que tanto almejamos... Certo são os versos do poeta ELIAKIN:


“O que eu não queria era ser comum

O que eu não queria era ser normal

Agora não, agora eu sou feliz sendo plural

Agora não, agora eu sou feliz sendo plural”

Mais Cultura, mais Roraima, mais terra dos ventos, mais arte daqui.

Fecha a conta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto! Realmente, já passa da hora de reconhecer e apoiar nossos artistas!