22 de abr. de 2011

O PARADIGMA DA CENA RORAIMENSE


Por Victor Matheus - Blog Roraimarocknroll

O projeto ESPAÇO ROCK do SESC-RR é uma das iniciativas mais interessantes reativadas em 2011, simplesmente porque permite o fomento sustentável da cena rock de Roraima, onde várias bandas locais participam em edições mensais do evento que acontecerá até o final do ano, além dos rendimentos de cada evento ser divido entre as bandas participantes do mesmo, sendo mais uma oportunidade para bandas locais tocarem, formarem público e ainda serem valorizadas por sua música, recebendo porcentagem dos rendimentos da bilheteria sem precisar realizar “esforço” nenhum para produzirem o show. Simples assim: Chegar, plugar a guitarra e tocar.

Na segunda edição do projeto constatei uma verdade palpável, o maior paradigma vigente na cena rock Roraimense até o momento: O Espaço Multicultural Sesc Centro, o templo sagrado do rock roraimense, caiu em descrédito na cultura rock local. Culpados? Todos nós: público, bandas, produtores que não souberam lidar com a evolução da cena e se adaptar a ela construindo uma imagem ultrapassada da casa do rock em Roraima.

Por muito tempo acostumamos mal o público de Boa Vista a ir consumir no templo do rock roraimense shows com perfis mercenários (Especiais e de Tributo) apenas de bandas cover’s, e raros festivais (TOMARROCK E FEST ROCK para citar) e escassos shows com bandas autorais, com exceção do projeto RORAIMAROCK e ESPAÇO ROCK, condicionando apenas parte do público consumidor de rock a freqüentar o local enquanto outra parcela do público, com um perfil mais alternativo e pop acabando por se dispersar. Quem conhece a história do rock roraimense sabe do que escrevo. No início da década passada, qualquer evento no Sesc Centro colocava facilmente 300 pessoas, hoje em dia, conseguir colocar 30 pessoas, e pagantes, pode ser considerado um sucesso.

Alguns podem apontar para momentos em específicos na história da nossa cena que ajudaram a fomentar esse paradigma, como o “racha” local de bandas que aconteceu no fim de 2007 quando surgiu o Coletivo Tomarrock, que tomou de assalto a cena com uma nova ideologia para a cena, mas nem tão nova assim para o resto do Brasil, com o discurso de que “gozar no pau dos outros não colabora em nada pra uma cena”. 

Fui e ainda sou um ferrenho defensor desse discurso, mas respeito e valorizo também o outro lado da moeda, pois já fiz parte dos dois lados. Valorizo os artistas que produzem música e reivindicam seus espaço e apreço, e valorizo os músicos que passam horas em casa estudando seu instrumento, e acham no trabalho de banda de baile, ou de banda cover, como preferir classificar, uma forma de tirar sustento digno e honesto para pagar suas contas. É justo para os dois lados. Cada um determina que caminho trilhar e ninguém tem o direito de julgar certo ou errado tocar cover ou música própria, sendo preciso somente ter consciência da escolha que fez e que caminho irá seguir.
 
Mr Jungle - Malocão do SESI - Set/2005 

A nova cena rock de Roraima que está emergindo vem acompanhando uma tendência atual no resto do Brasil e se moldando de uma forma que brevemente quebrará esse paradigma. Já podemos assistir em Boa Vista show de banda autoral em bares, tocando suas músicas e vendo o público cantá-las e aplaudir, comprando os discos e dando o merecido respeito a esses artistas. Vemos também um circuito bem interessante de bares, pubs e lugares gratuitos para bandas de qualquer gênero se apresentar, mas deixamos de olhar para trás e valorizar a pedra fundamental que fomentou por muitos anos a cena rock do extremo norte do país.

Não haveria o RORAIMA SESC FEST ROCK, PROJETO RORAIMAROCK, PROJETO ESPAÇO ROCK, bandas autorais gravando discos e circulando pelo Brasil e muitos outros capítulos da história do rock roraimense se não houvesse o Espaço Multicultural Sesc Centro. Isso é fato. Tenho orgulho de dizer que a pedra fundamental da nova cena, o maior agente fomentador foi o Sesc-RR, mas nós, todos nós, acabamos apagando seu brilho. Alguns ainda poderão questionar que tudo estaria como está mesmo se não houvesse o Sesc-RR e suas propostas de fomento a cultura rock local, mas pela reflexão que faço, acredito que seria bem difícil estarmos no ponto que estamos caminhando em nossa cena sem o empurrão e o espaço aberto que o Sesc-RR sempre deu as bandas locais.

Mr Jungle - Teatro Carlos Gomes - 2005 

Precisamos urgentemente olhar para trás e dar o devido valor não somente ao Espaço Multicultural do Sesc, mas a tantos outros espaços que foram esquecidos e que abrigaram por muito tempo as bandas e o público de rock roraimense, citando também o Malocão da UFRR, a pista de skate da Praça Ayrton Senna, e o Malocão do Sesi-RR com os Rock-gols e shows culturais e o Teatro Carlos Gomes.

Somente com a união de todos, bandas, produtores, agitadores, e do próprio público, poderemos quebrar esse paradigma e provar de uma vez por todas que o Espaço Multicultural Sesc Centro não é e nunca foi local de maloqueiro, puxador de fumo, roqueiro rebelde e mal educado. Não podemos generalizar e nem santificar, apenas ponderar todos os questionamentos levantados. Já passou da hora de valorizarmos e reerguermos o templo do rock roraimense, e provar para nós mesmos que juntos podemos transformar uma cena, construir novos caminhos e manter a porta aberta para novas bandas que precisam de oportunidade para apresentar sua música para o público Roraimense. 

A evolução é fundamental e necessária, mas não podemos seguir em frente sem valorizar o que está no passado. Antes de jogar a pedra, precisamos saber o que ela atingirá. Se o alvo for fixo ela apenas o derrubará, mas e se esse alvo resolver revidar, o que iremos fazer?

3 comentários:

Cesar... disse...

ah, boa questão levantada..
Sou da geração de bandas que abriu o SESC, o Espaço Rock em sei lá que ano.. 2003 eu acho.. antes só tinha quintal de amigo nas festas e a grama na praça pra tocar com umas caixas velhas caindo pedaços.. e tinhamos público.. as pessoas iam..

Nessa epoca eram menos bandas e as bandas iniciando eram realmente ruins.. nós mesmo eramos toscos. evolução foi com o tempo.. o SESC alavancou a cena com um lugar decente e som profi pra tocarmos.. era o pedaço do céu.. nego matava e morria pra tocar no SESC..

hje as bandas melhoraram, existem novas bandas, autorais e covers.. o ingresso eh o mesmo preço de que era em 2003.. o velho $10 e meia $5..

mas o cadê o publico? não sei o que aconteceu coma galera.. será que o pessoal agora se acha muito bom pra ouvir as bandas locais.. $5 eh muito pra ver 3 bandas tocarem no SESC?.. passou a fase? a moda? rock no SESC eh coisa de adolescente?.. se vc pensa SIM pra qualquer dessas perguntas.. só lamento pra vc..

Mas nos se preocpe.. já dizia o poeta Neil Young "hey hey my my... rock n roll will never die".. ou algo assim..
HáBraços.. \m/

Anônimo disse...

Saudades desta época, em que fazia gosto pagar cinco reais para realmente curtir algo bom. Cadê o público? O público cresceu. E infelizmente a maior parte da cena é para "explosão HC". Não desmerecendo essa ou aquela banda, mas, por favor, né, hoje é muito chato você passar mais de 4h no SESC, ouvindo várias bandas de HC. E infelizmente a geração de hoje tende a “apreciar” mais este “estilo”. E infelizmente, também, os bons tempos passados só voltam em boas recordações...

Cesar... disse...

discordo, não eh bem assim, os shows com bandas HC tem o publico cativo, mas quando não eh HC, seja Metal ou Rock n Roll, ou que diabos queira chamar.. não vai gente pra lá.. o ultimo espaço rock não era HC e pouquissima gente foi.. na noite do metal, mês passado.. não deu o publico que dava antes.. o problema não eh estilo.. o publico se acomodou.. não prestigia mais. e quando o publico desaparece, param de acontecer eventos, não trazem mais banda de fora, pq nao se consegue pagar despesas, e isso vai agonizando... até nosso Sesc Fest Rock está encolhendo, de publico, bandas e dias.. e não eh por causa de HC ou sei lá o que.. sempre tem grandes bandas, se o SESC lotasse como antes, estaria a pleno vapor.. e com verba.. com atrações cada vez melhores.. mas não tem acontecido isso, infelizmente.. é cada vez menor o publico d shows aki..