23 de mar. de 2010

Na Trilha do Asfalto c/ a Veludo Branco (RS) – Parte 1

Por Victor Matheus

Ainda garoto, despertou na minha alma o amor pelo rock n’roll. Passava horas grudado na guitarra, no violão, ouvindo, lendo, escrevendo e sonhando com a vida na estrada. Queria ser igual aos ídolos grudados na parede do meu quarto. Fazer solos de guitarra inspirados como o Slash, banguear como Angus Young e ter o feeling de Jimi Hendrix. Tocar com amigos, fazer shows, executar minhas músicas, ouvir o publico pedir bis, viajar de ônibus, carro, avião, barco, dormir em hotel, banco de aeroporto, casa de estranhos, viver de música, e acima de tudo viver música.
Após 9 anos de ter feito meu primeiro show, na praça Ayrton Senna, em Boa Vista RR, hoje posso dizer que sou um cara realizado naquilo que mais amo fazer: Música. Não tiro meu sustento dela, não pago minhas contas com ela, não faço mega turnês, minhas musicas não tocam na transamérica, e nem os clips na mtv, muito menos ganho disco de platina, ou sou reconhecido na rua como um rock star, mas do pouco que já vivenciei com a Veludo Branco, já me basta para estar feliz, me olhar no espelho e dizer a mim mesmo que eu consegui chegar lá! É algo que não tem preço e nem se pode mensurar, é viver a música pelo prazer dela, e não pelo compromisso, pela formalidade, mas somente pelo prazer de estar no palco, mesmo que seja por apenas 30 minutos e saber que pra chegar lá você encarou 12 horas de avião, 5 horas de ônibus, 2 horas de sono, sem dinheiro no bolso, com a barriga colada nas costas de fome, para estar lá, em cima do palco, fazendo o que realmente te faz feliz de verdade.

Durante 7 dias, pude viver mais uma vez este sonho ao lado de 2 caras, duas amizades de valor incalculável para mim, do outro lado do Brasil. O mesmo sonho dos meus 13 anos. O mesmo sonho do garoto que punha o violão nas costas em pleno meio dia, subia na bicicleta e pedalava 6 km pra ir ensaiar num cubículo de 2x2 na casa dos amigos e sentia-se o garoto mais feliz do mundo por estar ali fazendo o que mais gosta, a música.

Nunca Fiz amizade Bebendo Leite

Caímos na estrada, ou melhor, no ar no dia 14/03. Após 12h de vôo, a cidadezinha de Eldorado do Sul foi escolhida como nosso QG por fatores óbvios: Hospedagem free na casa da minha tia Dedeti, deslocamento fácil e rápido para Porto Alegre e Grande Porto Alegre, e o mesmo clima de interior da nossa Boa Vista – RR.

No primeiro dia (domingo) não tivemos show, e só havia chegado o Matuza e Eu, já que o Mirocem só tinha previsão de chegar, por causa do trabalho, no dia do nosso 1º show (17/03) em Porto Alegre. Então resolvemos explorar o ambiente. Encontramos a duas quadras do nosso QG um boteco, mas boteco mesmo, onde só alguns maltrapilhos beberrões estavam enxugando cerveja, conhaque e cachaça. Resolvemos encostar. Começamos a tomar uma geladíssima Polar (mas não a da Venezuela), enquanto observávamos o lugar, as pessoas, o clima. Percebemos muitas semelhanças com nossa terra, a começar pela praça que ficava na frente do boteco. Já era mais de uma da manhã e lá se encontravam alguns metaleiros, que nós costumamos chamar de True Metals brincando no balanço da praça. O que chamou a atenção, além da bizarrice de ver aqueles cabeludos de preto sorridentes no parquinho foi o que eles faziam na seqüência: Balançavam-se até a maior altura que conseguiam e se tacavam no ar em um “mortal duplo twist carpado invertido”, caindo de cabeça no chão, e dando gargalhadas depois do feito “olímpico”. Realmente algo totalmente pitoresco para nós, e que nos rendeu boas gargalhadas também. Até então, entre uma cerveja e outra, o dono do bar trocava uma idéia rápida conosco. Lá pela quarta garrafa ele já estava sentado na mesa conosco e contando sua vida particular. É por isso que digo que nunca fiz amizade bebendo leite (risos). Naquela mesa de bar, descobrimos um cara que foi um baixista frustrado, divorciado, ex mórmon, técnico em informática, dono de boteco, estudante de teatro, e um ninfomaníaco com taras por mulheres de óculos (risos). Realmente algo bem exótico para uma cidadezinha de 5 mil habitantes do sul do Brasil.

Com o frio batendo nas canelas, e nós, sem nenhuma noção de ter levado roupa de frio, resolvemos voltar pro QG e nos abrigar na calefação (2 camisetas, meias nas mãos e pés, 2 edredons e calça jeans) e curtir a embriagues adquirida no boteco que batizamos de “Bar do Mórmon”. Mal sabíamos que somente tinha começado nossa aventura pelo sul do país e que ainda boas histórias estavam para vir, com muitas risadas, gafes, imprevistos, apertos e lembranças para o resto de nossas vidas. (continua...).